domingo, 4 de março de 2012

Moitessier dobrando o cabo Horn - 5/5 - 04/03/2012



MOITESSIER DOBRANDO O CABO HORN



estrofe 13

 
as velas com todas as forras de rizes recortam-se contra o céu claro de sua mais alta latitude
as ondas pontudas mais se assemelham a dentes de tubarão esfomeado
ouço o ronco surdo do casco de “Joshua” que luta com a mar
a mar está toda branca
 o céu está todo branco
meus cabelos estão ficando brancos
sinceramente não sei onde estou
corremos muito tempo além das fronteiras do demais “Joshua” mais eu
nunca senti meu barco tão poderoso
nunca ele tinha-me dado tantas emoções fortes
há mais de 36 horas que não tiro meu impermeável
a gola do meu pulôver está ensopada d’água gelada
minhas calças idem
meu jantar foram duas latas de sardinha engolidas às pressas
mas não me sinto cansado não...
sinto-me bem obrigado
melhor que nunca
as recordações da minha infância envolvem-me
semelhantes a vagas quentes...
as longas corridas descalço nas florestas da Indochina
atrás do mel selvagem
as picadas das abelhas
as caçadas com bodoques
a mar verde-esmeralda- transparente do golfo de Sião
vista de bordo da
minha rústica canoa à vela
querem saber o que é um barco à vela, amigos?
uma não-máquina de pensar!
não-máquina porque pra mim toda máquina tem de ter motor pra ser considerada máquina
motor, essa invenção horrorosa
que custa caro
que cheira mal
que polui a água
que polui o ar
que polui o som
que é pesada demais
e que quando a gente mais precisa dela, pifa
e pensar que tem tanta gente que não vive sem motor
estou dando uma volta ao mundo sem motor a bordo
acreditam?
sabem o que acontece?
sem o maldito barulho do motor a gente consegue pensar
não tenho feito outra coisa senão pensar
recordar-me do passado
ler e escrever
desde que comecei esta alucinante viagem
é estranho como este céu do cabo Horn
se parece com o da Indochina
ohhhh! pena que vocês não viram
nem vão ver mais
nem vão acreditar se eu contar
mas um pálido arco-íris acaba de se formar
qual efêmero diadema
por sobre o gurupés de “Joshua”
à luz da lua
já tinham visto um arco-íris lunar amigos?
ha ha ha agora fui obrigado a rir
“Joshua” levou um tremendo caldo de uma onda
depois sacudiu-se todo lembrando um cão
livrando-se da água que lhe encharcava o pelo...
não imaginam o quanto amo meu barquinho
lépido e arisco ele salta de vaga em vaga
mais parecido com um monotipo de 4 metros
do que com um ketch de aço de 16 metros e 13 toneladas
corajoso "Joshua" segue em frente
sempre em frente rumo ao terrível Horn
indiferente aos grandes perigos que corre
teríamos já dobrado o cabo Horn amigo “Joshua”?
como sabe-lo se ainda não inventaram o GPS?
estamos em 1968 amigos, não se esqueçam
temos GPS ainda não
no momento astros, estrelas e lua não nos faltam
mas cadê o horizonte?
não, não eu saberia...
ainda não dobramos o Horn
mais tarde
um pouco mais tarde
temos de esperar
marujos e mulheres grávidas vivem de esperar
o vento amainou
vou acender o fogareiro e fazer um café?
servidos?


estrofe 14


o vento refrescou de novo
o ar está gelado
fico à escuta
a razão me cochicha ao ouvido
- reduza os panos Bernard
- avance mais devagar Bernard
- cesse de surfar nas barbas do Horn em cima desta sua pranchinha de latão chamada “Joshua” Bernard
quero, preciso obedecer à voz da razão
mas com que forças contrariar um inconsciente tão temerário quanto o meu?
já naufraguei duas vezes por culpa do meu inconsciente amigos
vocês todos sabem disso
todo mundo sabe disso
voltar ao pé do mastro
é imperioso voltar ao pé do mastro
voltar asinha ao pé do mastro pra arriar a vela grande
frear meu barco
aquartelar meu juízo
se é que ainda o possuo
o vento amainou
a velocidade diminuiu
tenho a impressão de acordar de um sonho
há três anos atrás, nesta mesmas paragens
a mar se acalmava logo assim que o vento diminuía
agora não sei
seria preciso ter dobrado dez vezes o Horn
pra saber o que vai acontecer desta feita
subo a farejar a noite
o vento rondou e caiu pra força 6
as ondas não são mais dentes de tubarão esfomeados que se recortam contra o céu
mas sim belas dunas prateadas...
não há mais golfinhos
nem gaivotas
nem fantasmas
reconquistei o controle da situação
mas não há meio de ficar absolutamente tranqüilo não
porque?
porque na mar tudo é relativo e muda o tempo todo
em especial nas imediações do cabo Horn
tudo está bem
de repente tudo está mal
tudo está sob controle
de repente tudo desembesta
subo pra olhar
olhar a mar produz um efeito hipnótico
que é mais forte à noite que de dia
olha-se
 olha-se
 olha-se infinitamente pro mar imenso
a mar voltou a crescer
amaino a mezena pra limitar a extensão das perigosas surfadas de “Joshua”
pergunto-me como pude me embriagar tanto
com a velocidade há uma hora atrás
como pude levar tão longe minha sede de adrenalina
olho pra esta mar formidável
respiro os borrifos
e sinto desabrochar aqui
no vento e no espaço
algo que necessita da imensidade do universo
para realizar-se.
um meteoro!
uma idéia!
atravessou a mil por hora o céu do meu cérebro
 é sempre em plena mar e nos momentos mais decisivos que me ocorrem minha melhores idéias
 Victor Hugo escreveu que
uma idéia é um meteoro
amigo leitor meu cérebro acaba de conceber
um meteoro
uma idéia
uma idéia meteórica
a mais louca das idéias que já me deu na telha
não consigo acreditar que pensei isso
e muito menos que farei isso
se eu fizer isso que acabei de pensar
o mundo inteiro vai me chamar de louco
num primeiro momento
mas depois
mais tarde
daqui a 10, 20, 30, 40, 100 anos talvez
ainda falarão de Bernard Moitessier
e foi dobrando o cabo Horn por volta da meia noite
do dia de hoje
que essa idéia formidável me ocorreu
estou feliz
confesso que estou feliz e cansado
acho que vou dormir
dormir pra melhor sonhar com minha
idéia meteórica
depois de conceber uma idéia como esta
não tenho mais medo de nada
nem do cabo Horn
nem do que Victor Hugo escreveu
nos TRABALHADORES DA MAR
sobre a mar e o vento
vou dormir
posso dormir amigo “Joshua”?
posso?
até mais
vou dormir
talvez morrer...
Não importa...
Mas se eu não morrer logo
Talvez ensine ao resto do mundo o significado da palavra
Aventura.
Aventura de verdade, é a que realizarei, se realizar...
Psssiuuuu, coisas futuras...
Fica só entre nós amigo.
Boa noite “Joshua”!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Moitessier dobrando o cabo Horn - 4/5 - 26/2/2012




MOITESSIER DOBRANDO O CABO HORN

 estrofe 10

tinha decidido capear, mudei de idéia
já perceberam quantas vezes mudamos de idéia na mar, colegas marujos?
na mar somos todos mais volúveis que a mais volúvel das mulheres
na mar mudamos de idéia 10, 20, 30 vezes por dia
mudei de idéia vou seguir em frente
keep walking!
keep sailing!
pra frente é que se anda!
pra diante é que se navega!
nada de me acovardar diante do cabo Horn
o Horn detesta marinheiros covardes
leme a meio e seja o que Deus, se existir, quiser
se Deus quiser que eu soçobre no cabo Horn seja feita sua vontade
se Deus quiser que eu dobre o cabo Horn que assim seja
eu que de ordinário sou ateu
virei deísta nas vizinhanças do Horn
ha ha ha!
não contem isso pros meus detratores, viu?
é isso, não vou aquartelar
nem rizar mais as velas
nem orçar
vou seguir em frente
leme a meio
rumo 090
se eu reduzisse os panos nesse momento alguma coisa poderia romper-se
o Horn está perto demais pra que eu reduza os panos
e a força do vento é 9 na escala beaufort
as rajadas sucedem-se violentas
as vagas sucedem-se colossais
é o funil da passagem de Drake que endoida o vento
é o alto fundo que se estende ao sul do Horn que emprenha as vagas
a cada rajada, as velas inflam ao máximo
parece que vão arrebentar
e “Joshua” levanta vôo por sobre a crista das ondas
por alguns segundos a mar fica toda branca
espumante como champagne derramado
“Joshua” orça uns 10° a cada rajada e eu me agarro com toda força à adriça da grande
um idéia insana me toma de assalto
ir até o púlpito do gurupés pra melhor sorver este selvagem espetáculo
mas a coragem me falta e eu não vou além da bujarrona
turbilhões de espuma voluteam no ar a sota vento
uma espécie de efêmera neblina se forma
no canal de vento que se estende entre a buja e a grande após cada nova rajada
a lua escondeu-se, mas sua claridade traspassa as nuvens
tudo parece irreal sob essa luz fantasmagórica das altas latitudes
olho pra proa do meu outrora pacato “Joshua”
e o vejo transformado no irado Flyng Dutchman
se Richard Wagner tivesse dobrado o cabo Horn antes de compor o seu Navio Fantasma
nenhum espectador suportaria ouvir o Navio Fantasma


estrofe 11
 
o Navio Fantasma de Richard Wagner é impressionante
 mas faltam-lhe algumas notas aterrorizantes
que ele com certeza teria acrescentado
se tivesse alguma vez dobrado o Horn
em solitário
por volta da meia-noite
com eu faço neste exato momento
existem acordes que só a experiência pode nos soprar ao ouvido
o frio está queimando as minhas orelhas
e a ansiedade a minha garganta
essa angústia só terá fim após eu ter dobrado o Horn
ajeito o capuz do meu impermeável sobre a cabeça e o rugido da mar se transforma num ronco longínquo
farejo na semi-escuridão da noite blocos de gelo e sargaços
“Joshua” quase atravessou no cavado de uma onda gigantesca
depois endireitou-se, orçou e voltou a adernar
e toma-lhe rajada
 rajada atrás de rajada!
rajada após rajada
uma infinita saraivada de rajadas
“Joshua” orça e aderna mais uma vez e após um longo surf planta o gurupés no traseiro de uma imensa vaga
a vaga vinga-se do atrevimento de “Joshua” dando-lhe uma violenta bofetada de água sólida no costado
tive de me agarrar à adriça da bujarrona pra não ser carregado pela enxurrada que varreu o convés
minhas botas encheram-se de água  gelada
outra vaga aproxima-se rugindo pela proa
alta, muito alta, maior que as anteriores
imensa, gigantesca, colossal
toda branca no topo e negra na base
“Joshua” começa a escalar a montanha d’água
quase na vertical
segue-se uma descida vertiginosa
penso cá com meus botões
bastaria uma descida mal sucedida de uma vaga dessas
pra que meu pássaro de asas brancas não consiga voltar à tona
e continue sua viagem numa outra dimensão
ao lado de todos os outros barcos que naufragaram tentando dobrar o cabo Horn
mas ainda não foi dessa vez
“Joshua” não é o “Flying Dutchman”
 mas continua voando em direção ao Horn sob o clarão das estrelas
e a ternura um pouco distante da lua
o tempo é elástico amigos marujos
quando vogamos ao sabor de uma brisa amiga
como diz mestre Slocum
circunavegando uma bela ilha da Polinésia
o tempo passa asinha
quando nos aproximamos do cabo Horn à noite
o tempo se arrasta
tenho a impressão que faz uma semana que comecei
a dobrar o Horn
na verdade nem sei onde me encontro agora
terei já dobrado o famigerado cabo Horn?
não, creio que não
se minha navegação estimada não mente
ainda não
ainda faltam 30 longas milhas pra cruzarmos o meridiano do Horn
conhecem as coordenadas do cabo Horn amigos?
não?
tomem nota!
55°58′47″S 67°17′21″W
felizes de vocês marujos do futuro
marujos da era do GPS
marujos que conhecerão a latitude e a longitude apertando um simples botão
aqui ainda estamos em 1968 amigos
temos de empunhar o velho e bom sextante
medir a altura dos astros acima do horizonte
quando há astros e horizonte
depois mergulhar nas grossas tábuas astronômicas
e por fim encarar a longa calculeira
à luz do lampião de querosene
sabem do que é que estou falando?
agora me digam uma coisa
o que é que vocês fazem quando o GPS de vocês pifa?
Rezam?


estrofe 12

tenho a impressão que o vento aumentou de força
isto me amedronta
auando o vento se intensifica ao largo do cabo Horn
nunca se sabe que numeral ele vai atingir
 30, 40, 50, 60, 80 nós?
na verdade o que me dá mais medo não é o vento
mas as vagas que o vento semeia
e o que me apavora de verdade não são
os ventos e as vagas reais
o que realmente me apavora são as terríveis frases que Victor Hugo escreveu num certo capítulo de
OS TRABALHADORES DO MAR
quer um bom conselho amigo velejador?
se você for velejar não beba
se beber não veleje
vai mais um?
se você pretende navegar não leia Victor Hugo
e se você leu Victor Hugo não navegue
confesso a vocês que o que mais me apavora
não é a mar nem o vento
é o que Victor Hugo escreveu sobre a mar e o vento
Em OS TRABALHADORES DO MAR
toda vez que uma nuvem escura aparece no horizonte
toda vez que a mais suave brisa começa a refrescar
as terríveis palavras de Victor Hugo me assaltam
me assediam, me molestam, me aterrorizam enfim
porque?
primeiro porque ninguém escreveu tão bem sobre a mar e o vento quanto ele
depois porque passo fatalmente a não ver o que está acontecendo, mas o que poderá acontecer
o medo mor é do porvir amigos, não do presente
em vez de correr do bicho, passo a fugir da sombra do bicho
se é que me entendem.
curiosos?
curiosos pra ler uns extratos?
dou-lhes alguns extratos!
extratos do aterrorizante capítulo
“Os Ventos do Largo” de
OS TRABALHADORES DO MAR
do grande Victor Hugo
“a cova dos ventos é mais monstruosa que a cova dos leões
os ventos combatem esmagando...
e cometem coisas horrorosas que parecem crimes
às vezes parece que cospem em deus
alternam em sentidos inversos os turbilhões
sopram hálitos frios, seguem-se hálitos quentes
a trepidação da mar anuncia um medo que tudo espera
inquietação
angustia
terror profundo das águas
subitamente o furacão como uma besta, desce a beber no oceano
a água sobe para a boca invisível
forma-se uma ventosa
incha o tumor
é a tromba!
coito medonho da vaga e da sombra
tudo é fúria e confusão
a brisa
a rajada
a borrasca
o temporal
a tempestade
a tromba!
as sete cordas da lira do vento
os ventos fazem ladrar as vagas que são seus cães...”
entenderam porque estou morrendo de medo amigos marujos?
não é do vento nem da mar
mas do que Victor Hugo escreveu sobre o vento e a mar
sinto esse medo terrível em qualquer lugar dos oceanos
Índico, Pacífico, Atlântico, Mediterrâneo
em qualquer mar
em qualquer braço de mar
que tudo é mar
mas em especial dobrando o cabo Horn em solitário
 por volta da meia-noite
tenho vergonha de confessar não
qual humano não tem medo da morte?
pois que a vida é bela e uma só

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Moitessier dobrando o cabo Horn - 3/5 - 19/2/2012



MOITESSIER DOBRANDO O CABO HORN

 estrofe 7


nunca vi o cruzeiro do sul tão alto nem tão nítido
vejo inclusive as duas nebulosas
prolongamento luminoso dos seus braços
à bombordo flutua a lua toda cheia
a boreste resplandece o clarão das geleiras antárticas
as bolas de fogo que já mencionei
avistam-se agora que a cerração se dissipou
a mais de cinqüenta braças de distância
são aglomerados de plâncton me diz meu consciente
são olhos de carnívoras lulas gigantes me sussurra minha imaginação febril
mas porque será que possuem tamanha claridade?
porque será que se apagam tão de repente?
mistérios, mistérios profundos
a mar é assim, sempre cheia desses mistérios insondáveis e profundos
que crescem de dimensão à noite
ora nos encantando, ora nos apavorando
é por isso que todos nós, marujos de alta mar
temos essa expressão mista no olhar
mescla de coragem, medo e encantamento
quem ama mulher bonita, inteligente, impetuosa e fatalmente infiel
tem essa mesma expressão desvairada e tensa de marujo de alta mar no olhar
basta olhar pro Otello da Desdêmona
basta olhar pro Don José da Carmem
basta olhar pro Bentinho da Capitú
todos três, Otello, Don José e Bentinho tem cara de marujo de alta mar, sem jamais ter afrontado a mar
minto, minto o mouro de Veneza conhecia  bem a mar
e Desdêmona não era, nunca foi infiel
pobre Otello atravessou a mar e afogou-se  na lagoa escura do ciúme
Machado, o grande Machado escreveu que Capitu tinha olhos de ressaca
e foi numa ressaca que Escobar perdeu a vida afogado
as vagas tornaram-se altas
ainda mais altas do que devem na realidade ser
pois que o clarão secante do luar realça-lhes o volume e a altura
eu deveria baixar o que sobrou da vela grande e tirar a bujarrona de cena
essas surfadas fantásticas que “Joshua” vem realizando na crista das ondas podem resultar em desastre


estrofe 8


são lindas
são emocionantes
são excitantes
mas como tudo que é lindo, emocionante e excitante são perigosas, pra não dizer perigosíssimas
aposto que a velocidade limite do casco já foi diversas vezes ultrapassada.
essas imensas vagas geladas mais parecem
labaredas de incêndio
e eu estou brincando com fogo, amigos
expondo-me demasiadamente ao perigo
sorvendo overdoses de adrenalina
eis-me viciado na droga mais alucinante do mundo
não é a cocaína, não é a heroína, não é a maconha, nem tampouco a nicotina
é a poderosa ADRENALINA
somos todos, nós aventureiros, nós marujos de alta mar, uns mais outros menos, viciados em adrenalina
e o cabo Horn é o maior traficante de adrenalina
do planeta
é só por isso que voltamos sempre ao Horn
todos fissurados numa overdose de adrenalina da boa que só o Cabo Horn sabe nos preparar
metade por conta dos seus perigos reais, metade por conta da legenda que potencializa o pavor
“Joshua” endoideceu
vejam! tá com um enorme osso entre os dentes
imagino impressionado os efeitos de uma capotada à toda velocidade, à noite e na vizinhança do famigerado cabo Horn.
não desejaria isso ao meu pior detrator.
nem mesmo àqueles que alardearam que eu naufraguei quando, na realidade, apenas virei pela segunda vez.
duas vezes em cinco anos de aventuras
velejando freqüentemente numa canoa mais instável que três mulheres juntas e em plena TPM.
as rajadas de vento estão beirando a força 9
preciso tomar um decisão
capear, aquartelar, orçar, arriar todas às velas
sei lá, só sei que preciso tomar
uma providência
antes que seja tarde demais
porque o tempo não para
não não não para, não para nem volta atrás
acontecido um fato, nem deus desfaz o feito
 o futuro só a deus pertence
e o passado nem deus revoga
por isso a grande filosofia, a maior de todas as filosofias dessa vida é
“melhor previr que remediar”
capear, é isso, acho que... vou capear!   
capear é a melhor solução quando não sabemos mais o que fazer.
vamos capear amigo “Joshua”?

estrofe 9

o velho Horn não gosta de ser dobrando facilmente...
opõe sempre uma dúzia de obstáculos aos loucos marujos que se aventuram nestas paragens inóspitas.
 > ondas grandes
 >> ondas de arrebentação em pleno mar
>>> ondas piramidais, ou seja, ondas surpreendentemente grandes, resultado do somatórios de duas, de três ondas distintas, vindas de diferentes direções
>>>> frio, muito frio no mar e no ar
>>>>> ventos fortes que aumentam de intensidade de repente e sem nenhum sinal prévio, que nos alerte sobre o perigo iminente
>>>> icebergs flutuantes e growlers ( sendo este obstáculo o mais raro de todos, mas que tende a crescer à medida que nós, os metaorangotangos vagabundos, glória e perdição do planeta Terra, promovemos o aquecimento global )
>>> névoas secas ou úmidas
>> nevoeiros
> chuva
>> neve
>>> granizo
>>>> tempestades violentíssimas em que todos os itens já citados ocorrem simultaneamente.
o Horn, colegas velejadores, o velho Horn não o é o tempo todo...
mas eventualmente o cabo Horn é o inferno!
talvez seja o vestíbulo do inferno
é ao largo do Horn que circula o demônio Caronte
“ o demônio Caronte, o olhar em brasa
vai dando com a pá do remo em alguns
 que o medo atrasa”

Dante Alighieri